A origem do mundo, de Matheus Arcaro
Depois de cinco obras bem-sucedidas, Matheus Arcaro, natural de Ribeirão Preto, lança novo livro na cidade.
A origem do mundo, de Matheus Arcaro, será lançado pela Editora Patuá (SP), em 11 de maio de 2023. A obra traz 17 contos — todos ilustrados pela artista plástica Leda Braga — e conta com orelha de Micheliny Verunschk e quarta capa de Maria Fernanda Maglio, ambas escritoras premiadas. Este é o sexto livro do autor, que já escreveu contos, poesias, romance e não ficção.
De acordo com Arcaro, o ponto de partida deste livro foi um estudo da Universidade de Brasília, coordenado por Regina Dalcastagnè, que se transformou em livro. A pesquisa constata que os protagonistas da literatura brasileira em sua grande maioria, são masculinos — 62% são homens e 81% são heterossexuais.
“Tendo acesso a essa realidade, comecei a esboçar os contos levando em conta duas premissas: todos seriam protagonizados por mulheres e deveria prevalecer a diversidade”, comenta Arcaro. Ainda segundo o autor, a multiplicidade de mulheres em relação à idade, etnia, orientação sexual e classe social deveria ser contemplada. “Em um dos contos a protagonista é empresária, no outro é mãe solo, no seguinte é negra, no posterior é trans e assim por diante”. Como escreve Maria Fernanda Maglio, no texto de apresentação da quarta capa: “Uma costura de mulheres. Tarsila alinhavada com Eulália, Amanda, Lúcia, Adelaide, Rosa. E na mesma sequência de pontos está Capitu, Macabéa e Deus (sim neste pano Deus é mulher)”.
Na orelha do livro, Micheliny Verunschk afirma que, com esta obra, Matheus Arcaro toma de empréstimo o título do quadro de Gustave Courbet para apresentar uma nova “A origem do mundo”, com “contos que gravitam em torno do feminino. Dezessete contos com nomes de mulher, em que a divindade ganha vulva e útero, e, por que não?, uma vida comezinha. Mas, para além disso e do acidental da existência de cada uma das personagens, essas histórias retratam também suas insubmissões e insurgências. Exemplo disso é a Vênus de Milo que, ganhando voz e consciência de si, conta a espantosa história de mulheres silenciadas e de como perde seus dois braços, em uma fábula deliciosa que une roubo intelectual, violência simbólica e Sir Isaac Newton”.
O objetivo, segundo Arcaro, é “fotografar intensidades múltiplas do feminino, expressar artisticamente, por meio da escrita em prosa, a profundidade da vida de várias mulheres”. E Matheus faz a ressalva: “Não se trata de retratar experiências, visto que sou homem, mas de me colocar no lugar do outro (ou melhor, das outras) por meio da literatura. A noção de ‘lugar de fala’, fundamental sob o ponto de vista sociológico, não pode ser aplicada cruamente quando se trata de arte, já que o trabalho do escritor é justamente ‘viver outras vidas’ a partir de sua criação”. E aqui cabe novamente um trecho da quarta capa: “Com uma narrativa sensível e habilidosa, Matheus não responde à pergunta que bell hooks faz na epígrafe: “o que é uma mulher?”. Mas certamente faz com que o leitor reflita sobre ela”.
Os livros anteriores de Matheus Arcaro tiveram repercussão considerável, elogios de público e crítica, com resenhas em vários veículos de circulação nacional. Em seu sexto livro, Arcaro se mostra mais maduro na arte de narrar, com construções bem-acabadas tanto sob o aspecto do conteúdo, quanto sob o aspecto formal. Como ilustração, um trecho do conto “Mariana”: “O que me faz revisitar essas páginas depois de tanto tempo? Talvez eu esteja percebendo que é inútil apertar as emoções num potinho tampado com a lógica. Porque sentimento é ligeiro, vaza pelas beiradas, escapa pelas frestas. Quantas vezes tentei recolocar a tampa, prender com esparadrapo? Pensei mesmo em parafusar. Mas parece que não me atentei que o fogo da panela estava alto demais: o sentimento explodiu a tampa da razão e se esparramou por dentro de mim”.
Matheus Arcaro é Mestre em Filosofia contemporânea pela Unicamp. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e também em Comunicação Social. É professor, artista plástico, palestrante e escritor, autor do romance O lado imóvel do tempo (Patuá, 2016), dos livros de contos Violeta velha e outras flores (Patuá, 2014) e Amortalha (Patuá, 2017), do livro de poesia Um clitóris encostado na eternidade (Patuá, 2019) e do livro de filosofia Nietzsche: verdade com metáfora e linguagem como dissimulação (Amavisse, 2022). Também colabora com artigos para vários portais e revistas.
A origem do mundo, de Matheus Arcaro
Gênero: Contos
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