Com prefácio do poeta e crítico literário Felipe Fortuna, que chama o autor de “poeta original”, a Topbooks está lançando Quermesse, a obra reunida de versos eróticos do cineasta e escritor Sylvio Back, um dos raros a investir nessa dicção incomum da lírica brasileira.
Compilando seus livros anteriores — O caderno erótico de Sylvio Back (1986), A vinha do desejo (1994), boudoir (1999) e As mulheres gozam pelo ouvido (2007) — Quermesse abre com 55 poemas inéditos, e traz soberba fortuna crítica, com elogios que vão de Paulo Leminski, Décio Pignatari e Moacyr Scliar a Carlos Nejar, Marcelino Freire e Affonso Romano de Sant’Anna, entre outros.
PRECIPÍCIOS DO CORPO
No encalço do reconhecimento de Manoel de Barros, um dos primeiros a ler seus poemas nos anos 1980, quando estreou, Back retorna em Quermesse com o mesmo torque explícito do verso desmetaforizado, justamente para discorrer “sobre os precipícios do corpo e as estripulias do ato sexual sem rebuços de linguagem ou disfarces temáticos”. E faz suas as palavras do premiado autor matogrossense — “A poesia empurece qualquer palavra; não há palavra impura para o poeta” — tanto quanto as do inglês W.H. Auden, epígrafe do livro: “Todas as palavras estão certas e são todas suas”.
O POETA É CASTO
Ao descrever sua obra, Sylvio Back alinha-se aos cultores do poema fescenino (o humor e o vocabulário desbragados), que vem do Egito, da Grécia, da Roma antiga, e dos trovadores da Idade Média — além de vertente nobre da lírica europeia (dos séculos XVII ao XIX), oriental e africana, seja profana ou religiosa (“os melhores poemas religiosos estão repletos de erotismo”, segundo o americano Charles Simic) — para afirmar que, “sim, meus poemas são libidinosos, mas o poeta é casto!”.
Diz ele que o palavrão, as chamadas “malas palabras” em castelhano (a propósito, como assinala o filósofo Sérgio Paulo Rouanet), jamais perdem seu valor semântico ao longo do tempo: embora sancionadas — e muitas vezes até fora de contexto — no cinema, no teatro e na literatura, são proscritas da poesia.
“Justamente por recorrer a um jargão cassado por sua crueza, comicidade e nonsense, pelo tônus licencioso e bestialógico dos versos — apesar de prática oral, de cordel e erudita de todos os povos civilizados — a poesia fescenina (termo associado à cidade etrusca de Fescênia) geralmente é censurada e censurável, quando não escamoteada aos leitores, mesmo nesses tempos de extrema permissividade e exposição sexual”, comenta Back. Em Quermesse, vaticina o autor, “retomo o DNA histórico do poema erótico como manifestação holística maior da língua”.
XANGRILÁ DITOSO
O verso obsceno (ou seja, fora de cena) tem seu nascedouro ancorado na cultura popular, nas feiras, em praça pública. São sempre estrofes lúbricas, com forte registro circense e de crítica moral, que vêm desde os clássicos romanos Catulo, Ovídio e Marcial, passando pelas medievais “cantigas d’escárnio e de mal dizer”; pelo veneziano Aretino; pelo “Boca do Inferno” Gregório de Mattos; os portugueses Bocage, Fernando Pessoa e António Botto (autor do genial livro Bagos de Prata), e ainda os nossos Bernardo Guimarães e Oswald de Andrade; Paulo Vellozo, Jayme Santos Neves e Guilherme Santos Neves (autores do antológico Cantáridas), além de Manuel Bandeira e o Drummond de Amor Natural.
Autor do texto de apresentação do livro, que intitulou de “Deflorais de Back”, o jornalista e escritor Roberto Muggiati sentencia: “Não existe tristeza na utopia backiana, o gozo é eterno neste novo mundo amoroso, Xangrilá ditoso que une num jardim das delícias os países baixos e os cumes cerebrais. Um sexo sem tristeza e sem culpa, ao melhor estilo do nosso pai espiritual, Henry Miller, que já líamos imberbes nas noites frias da velha Curitiba”.
Quermesse, de Sylvio Back
Formato: 16cm x 23cm
280 páginas | R$ 43,90
ISBN: 978-85-7475-227-3
Capa: Adriana Moreno sobre desenho inédito de Géza Heller
(Hungria, 1902 – Minas Gerais, 1992)
Topbooks Editora e Distribuidora de Livros Ltda.
Telefax: (21) 2233-8718 | 2283-1039
No Facebook: clique aqui.
O AUTOR
SYLVIO BACK – cineasta, poeta, roteirista e escritor — é natural de Blumenau/SC, filho de imigrantes húngaro e alemã. Ex-jornalista e crítico de cinema, autodidata, se inicia na direção cinematográfica em 1962, tendo realizado e produzido até hoje 38 filmes, dos quais 12 longas-metragens: Lance Maior (1968), A Guerra dos Pelados (1971), Aleluia, Gretchen (1976), Revolução de 30 (1980), República Guarani (1982), Guerra do Brasil (1987), Rádio Auriverde (1991), Yndio do Brasil (1995), Cruz e Sousa — O Poeta do Desterro (1999); Lost Zweig (2003); O Contestado — Restos Mortais (2010) e O Universo Graciliano (2013).
Publicou 21 livros (poesia, contos, ensaios) e os argumentos/roteiros dos filmes Lance Maior; Aleluia, Gretchen; República Guarani; Sete Quedas; Vida e Sangue de Polaco; O Auto-Retrato de Bakun; Guerra do Brasil; Rádio Auriverde; Yndio do Brasil; Zweig: A Morte em Cena; Cruz e Sousa — O Poeta do Desterro (tetralíngue); Lost Zweig (bilíngue) e A Guerra dos Pelados.
Obra poética: O Caderno Erótico de Sylvio Back (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, MG, 1986); Moedas de Luz (Max Limonad, SP, 1988); A Vinha do Desejo (Geração Editorial, SP, 1994); Yndio do Brasil /Poemas de Filme (Nonada, MG, 1995), boudoir (7Letras, RJ, 1999), Eurus (7Letras, RJ, 2004), Traduzir é poetar às avessas (Langston Hughes traduzido / Memorial da América Latina, SP, 2005), Eurus bilíngue (português-inglês/ Ibis Libris, RJ, 2006); kinopoems (Cronópios Pocket Books, SP, 2006) e As mulheres gozam pelo ouvido (Demônio Negro, SP, 2007).
Com 76 láureas nacionais e internacionais, Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Sua obra poética, em especial os livros de extrato erótico, coleciona vasta fortuna crítica. Em 2011, recebeu a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto de obra como cineasta e roteirista. Em 2012, foi eleito para o PEN Clube, tornando-se o primeiro cineasta brasileiro a integrar o prestigioso organismo internacional.
FRASES SOBRE O AUTOR
Sua poesia erótica é uma coisa singular dentro da poesia brasileira. (…) Você tem o controle total da linguagem para suas libidinagens verbais. (…) Você é um Aretino brasileiro, de nosso tempo. AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA
(…) que um dos melhores cineastas brasileiros/descobrisse a poesia/numa curva dos anos 80/não era provável/mas era possível que essa poesia fosse/de um raro erótico explícito/mas não era provável que essa poesia fosse boa/era provavelmente possível/embora seja provável/que todo o impossível se possa (…). PAULO LEMINSKI
Sylvio Back, gostoso neopoeta, neopornô. DÉCIO PIGNATARI
São dele [Sylvio Back] alguns dos melhores poemas eróticos de nossa literatura.MARCELINO FREIRE
Carajooooooooooo, que libro a foder! Quedome comovidíssimo na companhia de chicas que comungaram tal edición e vida. XICO SÁ
O teu “Caderno Erótico” realmente faz o leitor perder os cadernos: é, pela combinação de erotismo, humor, imaginação e senso estético na composição, uma obra surpreendente e que mostra teu talento multifacético. MOACYR SCLIAR
És o Bocage moderno, só que com muito mais graça e senso de humor. LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Admirável esse tipo de poesia que une o lírico ao erótico explícito. Impressiona que seja belo e tesudo numa mesma frase, num só momento. MAITÊ PROENÇA
Acho que a poesia empurece qualquer palavra — desde que ela seja tratada por um poeta! E isso você faz, ó Sylvio Back. MANOEL DE BARROS