
Despido de si, o uno é sempre um outro, de maneira que somente a poesia possa deflagrar tal dinâmica de alteração e pró-criação do existente. A razão entra, sim, no cuidado de revelar a própria emoção poética, sem que a aniquile quando consumada na forma-poema. Dessa consciência, Thássio Ferreira se vale: maneja ferramentas sonoras, rímicas, rítmicas. Entre aliterações e assonâncias, não joga as palavras, nem somente joga com elas. O poeta se joga, sim, à palavra como quem “se entrega ao sol do mundo”. Prefácio de Igor Fagundes, poeta, ensaísta, Doutor em Poética e Professor da UFRJ.
A CARNE INRANCOROSA
Esta carne que sangra agora
não possui memória.
Não guarda a lembrança de outros cortes
que minhas células nervosas
tão abstrata e fortemente evocam.
A carne, inrancorosa,
volta a se fechar.
Tão logo para
de sangrar.
E pobre, pobre,
inconsciente de sua história,
volta a se abrir
no mesmo lugar.
VOZES DE VENTOS
Não faço caso do que o vento
já murmura quando passa
por minha casa.
Quero eu dar vozes aos ventos
que se geram no que minto
e se expelem por meus poros,
carregados do que imagino
e não ouso falar.
Digam todos os ventos
– tão fast forward que poucos
(n)os possam decifrar –
tudo que, em mim,
de mim
quer se libertar.
CANTO MOMENTÂNEO
Canto o quadrado
de minha janela;
e, além dela,
a meia lua
de minha vista.
Canto o que
de mim alcanço.
Não entoo passado
que não lembro,
ou futuro
que não adivinho.
Canto o acaso.
Encanta-me o momento
que enxergo.
É cântico meu,
poesia,
em que destilo
os agoras
que ao acaso vivo.
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O autor
Thássio Ferreira é formado em Direito pela UERJ e trabalha no apoio a projetos de preservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico da Amazônia. Vive no Rio de Janeiro.
Título: (DES)NU(DO), de Thássio Ferreira
Editora Ibis Libris, outubro/2016
82 páginas
ISBN 978-85-7823-272-6
14x21cm
brochura
À venda nas Livrarias da Travessa do Rio de Janeiro
Preço: R$ 30,00Para comprar via internet clique aqui ou aqui.