O silêncio como contorno da mão é o quarto livro de Elaine Pauvolid e faz parte da coleção Orpheu da editora Multifoco. Neste novo livro, que tem a orelha assinada por Tanussi Cardoso, a autora explora, através da palavra, a dimensão ampla e “côncava” do silêncio. Constrói um universo particular, que pode ser partilhado com o leitor que esteja disposto ao mergulho nesta dimensão. “Voa que é côncavo o pensamento” convida logo nas primeiras páginas do livro. Outro tema abordado diz respeito ao universo plástico, presente desde a capa, que apresenta uma tela de Elaine Pauvolid, intitulada Umbigo do sonho, a poemas que sugerem a experiência da poeta no mundo das artes visuais, outra atividade a qual tem se dedicado.
Abaixo algumas impressões de autores que tiveram acesso aos originais do livro:
“Um bom livro de poesia é um acontecimento raro. E quando ocorre, que encanto! Bastou abrir O silêncio como contorno da mão, para que meus olhos saíssem a percorrer seu silêncio, naturalmente. Fiquei, um tanto perplexo, um tanto encantado, descendo-lhe as páginas de singular beleza; de leveza absoluta, tal como o azul da imagem-título o sugere. Tal como o Silêncio é.
Porém, não apenas isso. Seu livro, ao retratar plasticamente em palavras o silêncio, não se limita a atingir-lhe somente o lado mais rarefeito. Você vai e, suavemente, invade-lhe o fundo imponderável da própria alma.
Apropriadamente ao tema, realiza tudo isso com uma admirável economia de palavras. Poemas novos e antigos aqui se encontram. Estes, com nova roupagem. Uma vestimenta mais desnuda, mais leve. Um despir que, paradoxalmente, oculta. Sua obra é a prova viva de que é possível combinar profundidade e síntese.
Passada a metade do volume, notei que estava diante de um dos livros de poesia cuja leitura mais me agradou. Conjunto inteiramente harmônico, equilibrado. Mas que, longe de obter tal efeito pela mera repetição esquemática, surpreende o leitor: página a página, passo a passo. Há muito você vem produzindo obras belíssimas. Mas o fascinante é que consegue transcender a si mesma a cada lançamento. Isso me enche de uma alegria triste, pois sei em minha própria carne o quanto é preciso sofrer para se ser capaz de escrever o que você vem escrevendo”.
Ricardo Alfaya, poeta e ensaísta
“No novo livro de Elaine Pauvolid, O Silêncio como contorno da mão, há um clima de tensão interna, num pulsar rítmico frenético, habilmente burilado em versos curtos, sintéticos, às vezes numa única linha, aforísticos, criando no leitor a sensação de angústia e tristeza que perpassa todo o livro. São dessas sensações de que nos fala Pauvolid: a perplexidade diante de um mundo impossível; a desolação frente a um cotidiano inimaginável; a solidão intensa (de”um coração canino”) do Deus tão perto e tão distante; a dor do desencontro com o outro — o desamor, a morte, a delicadeza que persiste nas coisas. A autora nos fotografa a ideia de um deserto vazio e silencioso, como num filme de Wenders. (…)
Exercendo total domínio sobre a palavra que se quer verso, utilizando-se de forma magistral das metáforas, paradoxos, assonâncias, metonímias, e toda a carpintaria que lhe é soprada pelo seu talento, voz única em sua geração, tão suscetível às coisas passageiras (“meu verbo destoa”), Elaine Pauvolid solidifica o seu pensar poético, num livro preciso, triste e belo — uma ladainha que enche nossos sentidos de pura emoção, e nos toca na mais profunda de nossas humanidades”.
Tanussi Cardoso, poeta
“O que é habitar o silêncio? O silêncio dos mortos, dos malditos, dos culpados? O silêncio da sombra e do encarceramento? Habitar sem destino, como um ser habita um espaço sem alicerce? Eis o viés pelo qual os poemas de Elaine Pauvolid, em O silêncio como contorno da mão(Selo Orpheu, 2011), tecem seus versos: “Poesia não se manifesta no estrondo/ […] o poema é hiato, halo”. O leitor é convidado a voar no “côncavo do pensamento” do poema, portanto, no seu hiato, brecha: eis o que logo na abertura do livro declara, no primeiro verso, que, solitário, encara a página em branco, com a coragem de um grito silencioso.
A figura côncava é voltada para o interior, esse misterioso espaço que os poemas vão percorrer como rastro do sujeito que se projeta neles, como se projetasse sua sombra. O silêncio como traço que contorna a mão, signo do sujeito que imprime sua marca no caminho do trajeto da poesia, que se oferece aqui na imagem do tátil e do volátil, desvanecida e etérea. Ao tatear o espaço, tudo se preenche de uma atmosfera misteriosa e abstrata. O mundo se oferece como imagem, a partir de elementos concretos, justapostos no eixo sintagmático do verso. Por vezes o hermetismo das analogias impede o olhar. Enclausura o verso em seu silêncio. Sua semântica encarcerada numa voz que atomiza o espaço como “palavra corpo pedra poema”; como “voz esquecimento”; como um silêncio comparado ao “sol batendo no concreto” (…)”.
Susanna Bussato, professora de Poesia Brasileira na UNESP de São José do Rio Preto, poeta e ensaísta.
“É um caso curioso toda solidão. Esta insinuada no livro dói comoventemente, porque é um retiro espiritual forçado nas lembranças, uma religação com o passado e é como a chuva na vidraça, uma dor doméstica e um encontro com um deus particular, repleto de nuances característicos, mas, é, sobretudo um livro místico, Livro dos Silêncios da Flor Náufraga, A Costura do Silêncio da Pitonisa, As Conversas com o Silêncio da Sóror. E é bem verdade você ser a culpada, por trazer nas mãos o apocalipse, por registrar a dor das coisas findas, da experiência do rarefeito e do volátil. Entrega-se outra, não há dúvida, mistura quimera e ocaso e se (re)faz entre o espelho e o ar, guardando a multidão de espectros que se somam em uma paisagem presente e que logo não pertence mais ao presente ao que quer seja o tempo em seu trajeto dimensionário. Escava-se e se encontra. É um noturno, um noturno indiano. Uma Ofélia na ventania das palmeiras selvagens, afogada no azul do lago do céu, vestida com papoulas embriagadoras. É um bom livro”.
Mariel Reis, escritor, poeta e ensaísta
“Ao escrever sobre a poesia é necessário ao crítico desentender a verdade, ao leitor, reinventar a verdade, e ao poeta, ciência de que a verdade é incomunicável. Entender isso é a razão do silêncio, e o silêncio, a Poesia. Esta verdade incomunicável permeia a obra poética de Elaine Pauvolid. A verdade que está representada na forma de Deus, como no silêncio, ou na memória —, quando reconhece a poeta que o tempo passado não se comunica com o presente senão por meio da lembrança, enquanto o passado é incomunicável. Seria, portanto, a poética de Elaine uma teologia agnóstica quando afirma a incomunicabilidade como forma substancial do poema, como fundamento essencial da natureza de Deus e como aspecto ontológico do real. Enfim, pode-se dizer, lendo a poesia de Elaine Pauvolid, que o verso contém o silêncio, que o nome de Deus só pode ser entendido no âmago deste silêncio e que a realidade em si é o silêncio deste nome no limite do verso. Considerando que a informação (ou comunicação) é a base do conhecimento do ser, um Ser incomunicável não é compreensível à razão humana. O que se afirmar de um ser, cuja natureza, é apenas conhecida por si mesma? Nada. Basta ao homem o silêncio — não o silêncio da voz, mas do conhecimento. Porém, ainda que o pensamento não alcance a essência de um ser, cujo conhecimento limita-se a si mesmo, seria ignorância não aceitar que um ser que é desconhecido pela razão possa ser conhecido pela fé. É a fé que nos leva ao conhecimento do desconhecido ao revelar o que está oculto. Sempre achei que a fé é próxima do que entendo por poesia —, um caminho da vidência do sobre-natural (do que é sobre a realidade) —, que a poesia é metafísica; e, Elaine Pauvolid, apresenta esta poética metafísica. Ainda que possa ser nomeada espiritualista, prefiro o nome metafísico, pois a metafísica que Elaine trabalha abrange a matéria como o espírito e não se limita a um único objeto”.
Anderson Fonseca, escritor e editor do Selo Orpheu/Multifoco
Elaine Pauvolid é carioca, de 1970. Autora de Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela… (Imprimatur/7 Letras, 1998), Trago (edição artesanal, 2002), prefácio de Gerardo Mello Mourão, Leão lírico (edição da autora, 2008). Participou das coletâneas Rios (Íbis Libris, 2003) e Vertentes, (Fivestar, 2009) organizadas por Márcio Catunda. Publicada em diversas antologias nacionais e da antologia Como angeles em llamas — Algunas voces latinoamericanas del S. XX.- Editorial Maribelina, sello de la Casa del Poeta Peruano/ Lima (abril/2004 – Uruguay). Ganhadora do prêmio Biguá, concedido pela SADE – Sociedade Argentina de Escritores, em 2006. Colabora como resenhista literária desde 1999, com textos publicados no Globo, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio.
Bloga em www.jokasta.org, onde reúne escrita e artes visuais. Aluna da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde 2003. Fundadora e editora de Aliás, revista eletrônica de cultura [www.aliasrevista.com], desde 2000.
Título: O silêncio como contorno da mão
Autora: Elaine Pauvolid
Editora: Selo Orpheu/ Multifoco
Páginas: 93
Preço: R$ 32,00
ISBN: 978-85-7961-644-0
Pedidos de livros em: http://www.editoramultifoco.com.br