Poemas da Branca Paisagem Paulistana,
de Eduardo Sinkevisque

Poemas da BrancaPaisagem Paulistana (Árvore Digital, 2021), de Eduardo Sinkevisque, é uma paródia de Marília de Dirceu, poema do século XVIII de Tomás Antônio Gonzaga. Por meio de poemas numerados (odes/liras sem métrica, nem esquema fixo de rimas) e poemas nomeados e intervalares, Poemas da BrancaPaisagem Paulistana narra episódios amorosos, encontros e desencontros, entre personagens-tipo na (e da) cidade de São Paulo do início dos anos 2000.

Nos dizeres de Magnólia Costa

“em Poemas da Branca, o Orador assume o ‘locus honestus’ para falar de uma paixão nutrida e mal correspondida que transborda em intervalos de frustrada lucidez. É nesse lugar de honestidade que o Orador acolhe pessoas diversas, outras símiles — como ele, fabuladoras —, convidando para uma experiência divagante da cidade (…). No lugar de pradarias e colinas, ruas e prédios; no de árvores e ovelhas, postes e carros. A paixão despertada pela beleza de Branca se escande por bares, boates e auditórios, sem arroubo nem consumação. Um idílio sentimental setecentista na frieza da metrópole contemporânea”. [Apresentação]

Ana Chiara, professora de Literatura Brasileira (UERJ), no posfácio, reconhece haver em Poemas da Branca uma “homenagem irônica ao livro Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga“, em uma espécie de retomada à poesia árcade, “não apenas pela apropriação da dicção lírico-pastoril, pelo torneio elegante do verso, embora mais curto, pela incorporação de metáforas da natureza, como também  pela citação de alguns de seus famosos versos e, ainda,  pela atitude de delegação poética performada pelo sujeito lírico do enunciado”.

Como diz Magnólia Costa, Eduardo Sinkevisque convocou para o livro, para além dela mesma, apresentadora, “artistas” que, com ele, “assumem o ‘locus honestus’: William Feitosa Nascimento, o homem da capa, da ilustração, da arte final. Ilias Petalás, o designer gráfico responsável pela editoração. Eduardo Dieb, o editor. Ana Chiara, a autora do posfácio”.

Poemas da Branca, conforme o lê Ana Chiara, “abre mão da carapaça de ‘modernidade’ oblíqua que é tão perturbadora e cansativa em alguns poetas contemporâneos”. Chiara argumenta que os poemas “cede[m] apenas à inteligência da redescoberta com ‘olhos livres’ da linguagem da poesia, da poesia como linguagem, por jogos de intensidade em que o anacronismo do dezoito ilumina o discurso lírico do vinte um”.

Em Marília de Dirceu, Gonzaga canta, por exemplo:

Acaso são estes / Os sítios formosos, / Aonde passava / Os anos gostosos? / (…) / Aqui um regato / Corria sereno, / Por margens cobertas / De flores e feno; / À esquerda se erguia / Um bosque fechado; / E o tempo apressado, / Que nada respeita, / Já tudo mudou. / São estes os sítios? / São estes; mas eu / O mesmo não sou (…) (lira V).

Em Poemas da Branca o trabalho paródico se faz por meio do ritmo, da sonoridade e do sentido como, por exemplo, em:

[a]caso são estas / as baladas / modernas / aonde dançavas / os anos gostosos? / Berlin Clube? Madame Satã? / Cupido sobre ti / e sobre mim; / Cupido sobre Berlin Clube? / É este o Amor / nos anos 2000 / todo impulso / e repulsa; / fascínio e medo; / antecipação do fim, / prolongamento / da despedida? (…) São estas baladas / são estes; / mas eu / o mesmo não sou.  (poema IX)

Livro de muitas vozes, e de muitas camadas temporais, Poemas da Branca convoca, para usar um verbo caro a Magnólia Costa, ampla e variada audição.

Poemas da Branca — Paisagem Paulistana, de Eduardo Sinkevisque
Capa, ilustração & arte final: William Feitosa Nascimento
Editor: Eduardo Dieb
Projeto Gráfico & Editoração: Ilias Petalás
Apresentação: Magnólia Costa
Posfácio: Ana Chiara
ISBN: 978-65-00-19303-9
Publicado em 2021
Árvore Digital [impressão sob demanda, a pedido, no site]
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